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O estilo de Rhea Ripley

abril 30, 2023

Se você conhece WWE, já deve ter visto uma moça incrivelmente bonita, forte e gótica. Seu nome é Demi Bennett, ou melhor, Rhea Ripley, seu nome de ringue.

Rhea Ripley marcando presença

Na minha época de adolescente, eu não tinha referências de mulheres grandes e fortes assim. Quando comecei na musculação em 2011, era como se mulheres grandes não existissem. Hoje acho que chegou nossa vez. Vejo Rhea e me identifico muito, porque sempre fui um tipo físico maior. Eu penso, que legal ela ser assim!

Mas nem sempre foi assim, Rhea era bem diferente e performava feminilidade.

Mas sua transformação foi grande e até sua postura parece mais firme e decidida.

Rhea conta que quando chegou aos Estados Unidos, com vinte anos, tinha muito medo e queria agradar a todos. Ela diz que usava o cabelo como esconderijo, quando não se sentia confortável. Mas aos poucos isso foi mudando, tanto o corte de cabelo quanto a roupa. Ela conta que aconteceram muitas coisas em sua vida em 2018, o que fez ela ver a vida de outra forma:

“Fui perseguida, sofri bullying, sentia que não valia nada. E eu estava cansada de tudo. “

Ela estava muito cansada e quase desistiu da carreira de lutadora profissional. Rhea pensou que já tinha passado por muita coisa, chegou muito longe e poderia continuar. Foi aí que recebeu o empurrão que precisava: alguém no vestiário sugeriu que ela poderia cortar o cabelo, que ficaria bem assim. E ela abraçou a dica! Foi a dose de confiança que precisava. Rhea se diverte quando mostra seu novo estilo: ” – Todo mundo fica tipo, ‘o que é isso?’ Esse é meu novo eu, acostume-se com isso agora.”

Rhea é uma explosão de autoestima

Logo, os cabelos loiros foram pintados de preto, a maquiagem ficou escura, assim como as roupas. Ela também usa uma dose do estilo masculino, o que deixa tudo mais original.

Alfaiataria, deixa o visual elegante
Muito couro, látex e spikes
Estilo masculino também é sexy

Ela também fez várias tatuagens e começou a usar couro e spikes. Sua grande inspiração veio da banda de heavy metal “Motionless in White”, especialmente a música Untouchable.

Chris Motionless, da banda “Motionless in White”
Ela usa muitos acessórios, como munhequeira, meia arrastão, coleira e cropped de couro.
Um estilo mais despojado, com a cor preta que ela ama.
Corset, top morcego e over the knee boots.
Coturno e penteados diferentes, mesmo com cabelo curto.
As várias tattoos da moça

Rhea usa o trabalho como oportunidade de ser ela mesma e brilhar no ringue!

Stregheria em Desalma

novembro 6, 2021

No Brasil ainda há muitos que descobrem alguns termos frequentes no paganismo através de séries e filmes. É um erro comum, pois adaptações para as massas nunca vão ter a força das práticas e leituras. Também há pessoas que possuem um medo enorme do desconhecido, isso inclui qualquer religião que não seja cristã ou adicione mais informações como o espiritismo. Não faz sentido que um país com o sincretismo presente no Brasil ainda tenha medo de religiões de matriz africana ou pagãs, já que elas só crescem no Brasil devido ao fascismo que entrou com os dois pés nas igrejas cristãs. Isso não generaliza as igrejas, mas tampouco nos livra de acreditar no que quisermos sem sofrermos perseguições diversas. Para toda ação há uma reação, faz pouco tempo que houve um reavivamento de queima de igrejas na Europa, o que nos faz crer que talvez estejamos em um núcleo de mudanças parecido com o cristianismo quando tentou regular a antiga religião na Europa, o que inclui a Stregheria, que chegou aqui na forma de feiticeiras “disfarçadas” de cristãs. A cultura pop expôs isso de forma mais ou menos pontual em “Game of Thrones” e talvez tenha feito isso com a série “Sabrina”, que embora as pessoas cismem que assisto eu nunca vi, assim como “Supernatural”. Para mim tudo partiu das leituras e mais recentemente, das vivências que tenho como o que é considerado fora do normal por leigos. Claro, que também gosto da cultura pop, mas ela no geral mais me distrai que ensina. Mesmo assim, de vez em quando achamos algumas pérolas como “Desalma”, idealizada por Ana Paula Maia, com diretores João Paulo Jabur, Pablo Müller e Carlos Manga Júnior. Os roteiristas são incríveis, os atores também, o que faz dessa série uma das mais imperdíveis que já vi.

Strega, a velha religião

A Strega é conhecida como bruxaria italiana e possui ocorrências desde 1313 d.C. Na tradição romana, é narrado que Aradia foi enviada por sua mãe Diana à Terra. Diana era considerada deusa das bruxas e fadas, Aradia foi responsável pelo florescimento da religião pagã entre os seres humanos.

Recentemente vi Desalma, antes de estrear na tv aberta, no primeiro capítulo já nasceu a vontade de escrever esse post. Portanto, se você não viu a série, saiba que tem spoiler aqui.

Logo no início vemos uma consulta da personagem Haia Lachovicz (Cássia Kis) e uma cliente, que nos dá a entender que é uma amarração amorosa, ou seja, algo para manter alguém que você está interessado conectado a você. Ao acender uma vela na janela, Haia diz a cliente que seu pedido é simples, mas há consequências. Que tudo tem suas consequências. E na parte que considero uma das mais interessantes da série, ela explica que tudo é reversível, inclusive a morte. A cliente se espanta, perguntando se há formas de trazer alguém de volta da morte. Ela responde:

” – Se tiver paciência…o tempo é uma invenção que usamos para controlar a vida. A morte é uma ilusão, assim como o tempo. Tudo que existiu uma vez jamais deixará de existir.”

Os adolescentes implicam com a bruxa da localidade: mais atual que nunca.

Assim como a encantadora mitologia eslava, o paganismo ricamente ilustrado, está ao lado do cristianismo. Em várias cenas, como a cena em que Haia vai a um bar beber, está passando a notícia de Chernobil, enquanto em cima está a imagem de Jesus Cristo e Maria. Você sabia que a dualidade é uma característica muito presente nas crenças eslavas? Chernobog é uma mistura da palavra “cherny” que significa preto e bog quer dizer deus. Byelbog, de byely, significa branco, o deus da luz e das forças criadoras. Mais tarde essas duas forças seriam classificadas como o Diabo e Deus, na herança do cristianismo, mas originalmente o dualismo era oposto, essas forças eram tidas como complementares e não opostas.

Dualidades do panteão eslavo

Quando Vladimir I se converteu ao cristianismo, estátuas de deuses pagãos foram atiradas no Rio Dniepre. Da mesma forma, a maior parte dos registros de gravuras e escritos foram destruídos. A Stregheria, apesar de ser ligada aos cultos romanos, possui essa herança da dualidade pagã. As bruxas tiveram que se “misturar” aos cristãos, eram rezadeiras, benzedeiras, serviam à comunidade. Por isso apesar de serem consideradas servas de Satanás pela Igreja, eram admitidas nos povoados pois muitos se serviam de suas habilidades. Isso fica bem claro em uma conversa da personagem Anele e o padre de Brígida ( a cidade fictícia tem o nome relacionado à Brigid, deusa do panteão celta, “senhora da inspiração iluminada” dos poetas):

Brígida do panteão celta

Segundo o padre da cidade, personagem de Jonas Bloch, em conversa com Anele (Isabel Teixeira): -A raiz do mal é muito perigosa, despertar Ivana Kupala. Ela (Haia) é uma mulher que não era bem-vinda na cidade, mas acolhemos, mesmo sendo adoradora de Satã. Eu não gosto dessa festa pagã, mas como as pessoas gostam (da cidade) tenho que ser flexível. Ivana Kupala acontece em 21 de junho, dia mais escuro do ano, é o equivalente ao Yule da roda do ano celta/pagão.

A festa de Ivana Kupala

A filha de Haia, Halyna

Em Brígida aconteceu um evento macabro, que todos temem ao celebrar novamente a festa na região. Os mais velhos viveram o evento e carregam o peso nas consciências e os jovens se empolgam ao reviver novamente a tradição que convivem todos os dias. Como diz Halyna (Anna Melo) em determinada cena: “- (A festa) é coisa de bruxa, né?!”

Roman mais velho na cena da cachoeira e com a cabeça posicionada do lado direito de Halyna, quando jovem (os acontecimentos dos jovens são centro da trama).

Como diz a pesquisadora Thaís Cianca (doutora em Ciência da Religião pela UNICAP), a Strega sempre viveu nas florestas, partilhando com escravos libertos e trazendo esperança aos camponeses explorados pelos senhores feudais. Dianus, o deus com chifres romana era associado ao diabo no cristianismo. Jules Michelet no nsaio “A Feiticeira”, fala que a bruxa enquanto “emissária” do demônio, representa o espírito da revolta contra o Estado, a nobreza e a Igreja. Os mitos denunciam através do imaginário a construção de processos históricos de dominação e opressão. Isso fica bastante focado nas diferenças entre a Haia e sua filha Halyna (família pobre) e os poderosos da cidade, a família Skavronski (a mais rica da cidade). A famíla Skavronski depende de Haia e ao mesmo tempo faz coisas terríveis com ela.

Boris, Roman, Ivan e Aleksey xeretando onde não devem.

Na cidade de Brígida, também é retratada a ligação com a natureza que os habitantes e a bruxa possuem. Os eslavos possuem um panteão de deuses animistas, que habitam o céu, a Terra, a Lua, a água e o vento. Ainda hoje essas crenças pagãs se misturam com as cristãs, é conhecida como “fé dupla”, a “dvoeverie”. Além disso, diferente de outros tipos de paganismo que adotam como família a comunidade como o Heathenry ou Asatrú, a Strega se dá no nível familiar, isso fica claro quando Halyna recebe ensinamentos da mãe. Geneticamente há uma herança da bruxa verde, aquela que é ligada à natureza e pela genética. Isso é notável quando a Haia fala que a bruxaria está nos genes de seu sobrinho (policial), mas que ele é muito cético para acreditar.

Stregheria é algo familiar, diferente da noção de comunidade. É passado aos membros da família e é geneticamente herdado. Por isso o brasileiro tem muito a ver com Strega, quem não tem uma tia, mãe ou avó que sabe de simpatias, chás, xaropes, oferece previsões que no futuro são confirmadas? São verdadeiras stregas sem lapidação.

Outro ponto incrível da série é a forma como retrata o acidente nuclear de Chernobil, já que os habitantes de Brígida são descendentes de ucranianos. Os diálogos mais interessantes estão com Boris, Haia (Cássia Kis) e Iryna. Iryna por exemplo, diz que: “… bruxas voam, mas não é um voar comum, é uma viagem astral”. Na viagem astral podemos sair dos nossos corpos e flutuar, às vezes encontrando pessoas. A Baba Yaga é a bruxa do folclore eslavo.

Representações da Baba Yaga

Outro elemento que aparece na série como sensitivo, são os animai, os porcos e o cavalo. Boris em um diálogo com a recém chegada Giovana (Maria Ribeiro), em resposta do porquê gosta de porcos, responde: “- Você sabia que os porcos não podem olhar para o céu? Anatomicamente eles não conseguem. Depois descobrimos através de Anele (Isabel Teixeira), uma parábola que faz um forte sentido ao motivo pelos quais os porcos da criação de Boris estão morrendo: A passagem bíblica de Mateus 10, quando Jesus permite que os demônios que estavam nos homens possam entrar nos porcos para que tenham paz. Posteriormente, vemos que Boris já se interessava por animais, quando em uma aula da escola em 1988, ele comenta que leu no jornal da cidade que podem nascer peixes com duas cabeças e sapos com três pernas. Ele continua contando que em Chernobil, na localidade de Pripyat, um bezerro nasceu com o rabo na testa.

Lucas Soares e Ismael Caneppele, dão vida ao desafiador Boris Burko.

Iryna (Nathália Falcão), uma jovem que acredita piamente nos misticismos de Brígida

Outro elemento que a série traz de forma muito rica, é a transmutação, chamada de transmigração. Presente na alquimia, ela pode ocorrer de um elemento químico para o outro, ele é aplicado nos princípios da genética e elementos nucleares.Ao longo da evolução isso era considerados tanto no sentido material quanto espiritual.

Transmutação de elementos

Haia explica que muitos poderosos viveram séculos transmigrando de corpos, possibilitando que um corpo velho e debilitado mudasse de forma transmigrando para outro ser humano através da alma. A alma nunca morre, ela sempre permanece. Através do menino Anatole, alguém morre e quer tomar posse do corpo do menino. A Haia explica que tudo se transforma (um conceito de Lavoisier), inclusive a alma que continua vivendo no ar. Somos átomos, tudo é átomo. Ela diz, Halyna nunca se foi, apesar de ter morrido.

Ignes Skavronski (Valentina Ghiorzie e Claudia Abreu)

Outro personagem incrível é Ignes, pedagoga que possui uma sensitividade enorme e um grande caráter, muitas vezes é tratada injustamente como desequilibrada por suas perturbações psicológicas devido aos traumas que viveu e está vivendo. Ela é incrível e dona de frases maravilhosas na série como esse diálogo que trava com Giovana (Maria Ribeiro) sobre seu ceticismo: – Você nunca viu algo te olhar, te rondar? E quando você olhou não havia nada lá…Você não passou a acreditar um pouco em Deus ou no Diabo?

Fechando essa série incrível, temos o mito das mávkas das lendas ucranianas. Na série elas são apresentadas como lindas jovens virgens/nunca batizadas, espíritos de luz, que morreram em situação de violência e voltam vingar sua morte. Ela ama água, seu cabelo é longo e enfeitado com flores, quando ela corre não possui sombra. Segundo Haia, a água é um ótimo condutor de energia sobrenatural, com ela você traz limpeza energética e flui qualquer feitiço. Por isso nosso corpo, a Terra, possuem tanta água.

Mávka, ilustração de Ekaterina Borisova

Estudar as religiões e culturas diferentes das nossas enriquece o repertório cultural e educa a respeitar crenças diferentes das nossas. Simbolicamente o mito da bruxa representa todas as mulheres que possuem a coragem de viver conforme sua vontade em um mundo ainda dominado pelas regras do patriarcado.

Vídeo editado por Mary Suan – a neta da medusa (youtube) – Música Karliene – Witch (Ative cc na parte superior direita para ver as legendas)

Falando em música, as músicas da série estão no Spotify e são incríveis, aproveitando a década de 80 para tocar músicas fora da do circuito atual, como Sigue Sigue Sputnik, Sepultura, Replicantes, além de bandas ucranianas, músicas folk e a trilha sonora feita especialmente para série por Alexandre de Faria. Aproveite!

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Observe Mike Ness se transformando em um clássico

novembro 10, 2020

Há muitos que aprendem a se “vestir” com o tempo ou às vezes a própria autocrítica destrói tudo. Você sabe, a sociedade tenta nos encaixar em um padrão comportamental e de estilo o tempo todo. Mas esquecem que cada um é único, nós somos humanos inevitavelmente vamos frustrar você em algum momento (citando o excelente Anthony Hopkins interpretando o personagem Robert Ford). Robert Ford sendo niilista, infinitamente existencialista e pegando emprestado o conceito de Julian Jaynes sobre sermos controversos, o conceito bicameral de mente e falando sobre autoconsciência (eu prometo escrever um post tão lindo quanto minhas reações internas ao assistir a série de Jonathan Nolan e Lisa Joy, Westworld).

Robert Ford nos dando um banho de filosofia existencialista. Emil Cioran vai perder essa.

Eu poderia citar várias pessoas que envelheceram, amadureceram ou como eu prefiro dizer, se tornaram um clássico. Pois não é? Existem os carros “velhos” e existem os “clássicos” e um “clássico” sempre será um “clássico” não importa o estado de conservação que esteja. Não estou transformando o ser humano em um objeto ou contemplando de um ponto de vista superficial. Isso não depende da beleza, visto que beleza sem conteúdo é um fardo e não uma contemplação. Não existe nada mais charmoso que envelhecer sem medos, seja da morte, da crítica externa ou da “perda da beleza”. No final o que é bom costuma ficar bem melhor com o tempo. Ontem vi o Ronnie Von na Globo News comentando sobre a morte de Vanusa (que foi uma perda enorme) e pensei: Tantos anos e o homem permanece lindo. Lindo e inteligente! Disse que Vanusa apresentou muitas inquietações feministas e femininas, também o cantor Belchior.

Social Distortion e Mike Ness (no centro da foto)

Mike Ness é um desses tipos Ronnie Von. Ele é bem mais novo (58 anos), mas seguirá o caminho. Primeiro pela conduta…em toda carreira punk, Mike foi ele mesmo: calado, tímido, “galã”, mas também marginalizado (não importa os rótulos) pelas tattoos (situação narrada por Rocky Rakovic na revista Inked), casado com Christine Marie desde 1990 quando a tendência, também entre os astros alternativos é estar sempre acompanhado, de preferência com uma mulher muito mais nova… Ness fez o improvável: foi de um estilo estereotipadamente (dentro dos padrões Vivienne Westwood do Sex Pistols, que gosto muito mas não é o único estilo punk) punk até o rockabilly. E quando as críticas não paravam de brotar ele ousou mais fazendo um som que beirava o country e também investindo nesse look. Hoje em dia ele parece um gangster saído da série “Boardwalk Empire”(tome isso como um elevado elogio), se encheu de tattoos old schoool e nunca esteve mais elegante. Ele virou um clássico. É aí que a personalidade causa uma reação muito maior que a beleza, existe algo mais punk do que a conduta de Mike Ness? Bom, alguns desmotivadores falarão da acusação de que ele agrediu um fã por mostrar o dedo do meio no show. A circunstância: Ness havia acabado de discursar contra Trump no show em 2018. Eu me pergunto, que diabos faz um fã de Trump no show do Social Distortion? E o que esse cara fez para que Ness, normalmente calmo e assertivo, teoricamente tenha partido para cima dele.

Eu poderia falar muito mais sobre esse homem aqui, mas devo deixar claro que Social Distortion é a melhor banda punk que já ouvi. As letras são lindas, as músicas são inspiradoras e a ousadia em mudar, quando os fãs esperam exatamente a mesma coisa, ainda obtendo reconhecimento por isso é algo para se admirar.

Mike Ness explicando seu “sympathetic look” em 1982, influência que seria bem nítida no Greeen Day nos anos 90 e 2000. Não somente neles, mas em todos os emos dos anos 2000…não digo que não tenha influência gótica, mas isso é ser visionário. Ele usava alfinetes na orelha, como os primeiros punks, arrepiava seus cabelos em um moicano que seria conhecido como faux hawk, popularizado por Sid Vicious, Billy Idol e Supla.

Capriche ao borrar o olho de preto

Esse é Mike Ness em 1981. Você pode imaginar isso em uma plateia com punks rispidamente estereotipados? Eu não sei vocês, mas minha experiência com punks na vida real não são tão idealizadas como no som. É algo do tipo: “Você usa uma faixa japonesa hachimaki, você não é suficientemente punk”. Como se não bastasse a sociedade que nem sabe como é o estilo… A faixa é um ícone cultural, impedia que o suor caísse nos olhos, garantia o capacete no lugar e significa até hoje, coragem e esforço. É bem conhecido na comunidade japonesa, o seu uso em datas festivas.

A combinação inusitada de um “sympathetic look” e o hachimaki, aguardando o rockabilly Mike Ness aflorar nos anos 1990.

Mas nem sempre foi assim…nos anos 80, quando era possível avistar todo colorido new wave afetar também o punk, Mike Ness permaneceu com a influência anarcopunk, nas boinas e acessórios.

O cabelo sempre foi algo importante para Ness. Enquanto o grunge pregava a simplicidade nos anos 90, tudo isso com muito cabelo comprido e mais natural possível, Mike Ness não ligou. Simplesmente estabeleceu seu estilo rockabilly com o cabelo curto e muito arrumado em um topete, quando todo mundo esperava muita sujeira e agressividade visual (no caso dos punks) ou o contraponto clean e urbano (grunge), porém simples. Também tinha espaço para o hardcore, também simples, porém esportivo e guardando muita agressividade (mais em relação à personalidade e muito menos focado nas roupas).

Vai pomada aí?

O cabelo sempre foi uma preocupação para Ness, que já investiu nos topetes rockabilly e até em muitos movimentos consagrados no estilo musical, como essa pose com a guitarra.

Mike Ness não incorporou apenas o rockabilly no visual, mas o country que faz parte da essência desse estilo. Veja Mike Ness também nos anos 90, com jaqueta de couro e chapéu de cowboy:

Se você é rockabilly e não tem uma camisa nesse estilo, você não entendeu o conceito. Ness e uma de suas paixões, carros antigos.

Mike Ness e seus inseparáveis óculos escuros.

O interesse pelo estilo old school não está somente no visual de Mike Ness, ele gosta de visitar os atiquários dos lugares em que faz show com o Social Distortion. Suas relíquias já são tantas que incomodam a esposa, porém ele diz que está providenciando outro lugar para guardar os achados. Rocky Rakovic, que passeou pelos antiquários com o Social Distortion em Nova Jersey para entrevista da revista Inked , perguntou para Mike Ness o que o atrai nas antiguidades e ele respondeu: “(…) Gosto de me cercar dessas coisas porque elas me inspiram. É uma outra forma de me expressar”.

Alguns de seus bonecos de ventríloquia. Gostou ou acha assustador?
A influência da coleção de antiguidades de Mike Ness: boneco na capa do ábum do Social Distortion “White light, white heat, white trash” do ano de 1996

Certamente o interesse por antiguidades ecoa no seu visual, com tattoos old school de temas clássicos como pin-ups, carros antigos, teia de aranha e muitas outras que se acumularam com o tempo. Também há a temática religiosa, que Jesus Cristo e a coroa de espinhos em seu peito.

Mike Ness aprecia a iconografia religiosa e também placas de carro da Gasoline Alley. Ness precedeu e muito a moda atual de tattoos no rosto, com sua âncora embaixo do olho esquerdo, que faz com que possamos observar também uma influência cholo, que parece ficar evidente conforme o tempo passa para Ness. Seus óculos escuros também são importantes, há muito tempo são também sua marca de estilo pessoal.

Essa pin-up é a tattoo mais fofa do Mike Ness.

Atualmente Mike Ness está mais elegante e clássico que nunca, pois incorporou definitivamente o estilo vintage/retrô ao seu visual provando que seu avô sempre teve razão: Na época dele, as pessoas sabiam se vestir. Um penteado no cabelo, uma boina, suspensórios, colete e gravata sempre serão muito elegantes:

Mike Ness e Social Distortion no FivePoint Amphitheater iem Irvine, 26 de outubro de 2019. (Photo by Drew A. Kelley, Contributing Photographer)
Social Distortion – Winners and Losers

Fonte bibliográfica: Procure a Inked número 5, de abril de 2011 com capa da Mel Lisboa para saber mais sobre Mike Ness.

Lords of Chaos: loucura, depressão e black metal

março 5, 2019

Um filme muito aguardado em 2019, “Lords of Chaos” é dirigido pelo diretor sueco Jonas Akerlund. Jonas é muito conhecido e premiado por dirigir vários clipes famosos como “Telephone” de Lady Gaga, “The Everlasting Gaze” do “The Smashing Pumpkins”, “Beautiful Day” do U2 e “Ray of Light” de Madonna. Ele já dirigiu clipes de Rammstein, Britney Spears, Christina Aguilera, Ozzy Osbourne e Blink 182, é reconhecido por fazer clipes sarcásticos para com a própria indústria cinematográfica e críticos quanto ao consumismo e a fama.  A aparência de Jonas Akerlund, cabelos negros compridos, roupas pretas, camisetas do Venom e anéis de caveiras,  denuncia sua origem no black metal: ele já foi baterista da banda mais expressiva e famosa desse gênero (na minha opinião), Bathory de 1983 a 1984.  Ou seja, o cara estava ao lado de quem fundou o gênero black metal, portanto eu esperava uma boa direção em seu filme “Lords of Chaos” (o que aconteceu).

Jonas Akerlund, o diretor de “Lords of Chaos” e antigo baterista do Bathory

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Trailer oficial do filme

Rory Culkin é Euronymous, destaque do filme

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O real Oystein Aarseth, o Euronymous

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A adaptação do livro “Lord of Chaos” de Michael Moynihan e Didrik Soderlind para um filme retratando a cena black metal, já começou muito polêmico. O problema é que os autores alegam ter uma postura verdadeira sobre os fatos que ocorreram no início dos anos 90 que vão desde assassinato a incêndios de igrejas na Noruega, retratando a subcultura black metal de uma forma parcial, levando em consideração o terrorismo e o histórico de assassinato de Varg Vikernes do Burzum. E não foi apenas Varg que achou ruim, chamando o ator que o interpretaria (Emory Cohen) de judeu gordo, reclamando da sua”aparência inapropriada” para interpretá-lo. Varg é um nacional socialista, um nazista empolgado com a religião pagã e que não diz muitas coisas que sejam apreciáveis. Não gosto dele, apesar de muitos fãs acharem que não há nada demais em gostar de pessoas simpáticas ao nazismo, porque a obra dos artistas é boa, não há como gostar de intolerantes. Foi o caso de Phil Anselmo quando fez uma saudação nazista…você cresce e só quer usar uma camiseta de um ser humano que te dê orgulho. Voltando ao assunto, Varg achou o filme ruim porque ele mostra o mesmo como vilão da história, especialmente para os jovens que não o conhecem.

Varg e o ator Emory Cohen: seria a escolha um belo cutucão no nazi Varg? Se foi, funcionou bem.

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O vocalista da banda Satyricon (que eu amo), Satyr Wongraven, se pronunciou em entrevista dizendo que agora que o black metal havia se voltado à música que é o que realmente importa, decidem adaptar um livro no formato de “jornalismo de fofocas” para o cinema.”Se o livro é ruim, só posso presumir que o filme também será”…e continuou dizendo ser triste o fato de um livro escrito de forma tão inexata agora será uma referência em termos de black metal. Frost, seu companheiro de banda também concordou com isso. Dá para entender suas opiniões, para quem não conhece o black metal, o filme oferece o que há de melhor e pior nessa subcultura. Foi assim com “Jovens Bruxas” que muitos acusaram de deturpar a visão do que é wicca e “A outra história americana”, um filme excelente mas que no sentido literal faz as pessoas entenderem que só existe um tipo de skinhead, o bonehead…Na verdade isso já ocorreu com vários outros filmes que tratam de subculturas, se você não vivencia, jamais saberá o que é viver em uma. E lógico, ver um filme desse pode levar a fortalecer um preconceito existente ou inspirar a conhecer a subcultura real. É assim com tudo que é diferente, o tempo mostra o verdadeiro valor de alguns filmes focados em subculturas.

Lords of Chaos: O black metal sofre preconceito até mesmo dos fãs do heavy metal. Encare o filme como uma segunda chance para você gostar do som e de sua filosofia.

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O filme traz em seu início um aviso de que ele retrata verdades e mentiras sobre o que realmente aconteceu. A película conta a trágica história do Mayhem.  Per Yngve Ohlin, também conhecido como “Dead”, era o vocalista que entrou após a saída de Maniac. Dead se suicidou em abril de 1991. Seu colega de banda, Euronymous fotografou tudo e usou as fotos na capa de seu disco”Dawn of the black hearts”. Em 10 de agosto de 1993, seria a vez de Euronymous, assassinado brutalmente em seu apartamento por Varg Vikernes. O que o filme traz sobre essa história que todos conhecemos? Essa é a cereja do bolo do filme que ultrapassa qualquer “folclore” do black metal. Os personagens são humanizados, por isso nós vemos essa história de forma diferente do que estamos acostumados. Percebemos que Euronymous sofre mais pela perda de “Dead” do que deixa ser percebido pelos outros. Em determinado momento do filme, a cena como conhecemos é retratada, para posteriormente ser repetida do filme , dessa vez com o rosto de Euronymous repleto de lágrimas. Daí temos a exata compreensão de que são garotos  tentando parecer ser fortes e assustadores, quando vemos que suas essências estão mais próximas da atmosfera meditativa das florestas e do lado deprimente da morte.

Dead e Euronymous: mais sensíveis do que aparentam

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É inegável a influência do gótico no black metal, como em várias vezes do filme em que os rapazes lamentam o modismo de bandas que comemoram a vida, com festas, garotas e muita bebida; quando na verdade todos estamos mais próximos da morte. É uma incômoda realidade pensar nisso, assim como é incômodo pensar que não temos o conforto no cristianismo, porque afinal, depois da morte pode não existir nada. Se percebermos a crítica além da aparente futilidade, podemos entender realmente do que se trata o black metal ao invés de apenas ligarmos seus conceitos ao lado pior do ser humano. É um pouco parecido com o que Sartre escreve em “A náusea”, em que o historiador Roquentin estuda a vida de Marquês de Rollebon, uma figura do século XVIII. O historiador começa a escrever sobre o Marquês quando sente uma espécie de estranhamento que ele chama de náusea.  O historiador do livro não consegue encontrar sentido para nada,  não acredita na explicação para a existência de nada. Em determinado momento do livro, o historiador perde o encantamento pelo Marquês e passa a repensar sua própria existência. No decorrer do filme percebemos esse desencantamento de Euronymous por Varg, a quem no início do filme ele se refere como “poser”. Euronymous ensaia um afastamento do antigo amigo, que tem ideias além do considerado saudável pelos já extremos integrantes do black metal. Pelo menos no filme, vemos o quanto Varg é influenciável, tanto ao acreditar que Euronymous o mataria quanto ao fazer de tudo para ser aceito por ele. A fofoca de Faust (certamente motivada pela inveja dos bem mais talentosos e famosos colegas) baseada em um desabafo de Euronymous feito no calor do momento, motiva o extremista Varg a se adiantar quanto aos “planos” de seu “amigo” Euronymous.

Os verdadeiros Varg e Euronymous

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Varg Vikernes (Emory Cohen) e Euronymous (Rory Culkin): competição descontrolada que gera morte e acaba com uma amizade.

Mas por qual motivo a amizade de dois jovens, com os mesmos interesses termina de forma tão trágica? Ninguém sabe explicar porque isso aconteceu…o que percebemos são duas coisas: a incapacidade de Varg separar fantasia de realidade, levando o que Euronymous acredita ser a performatividade do black metal às últimas consequências. E o hábito terrível de competição, que existe em muitas amizades, mas que pode destruir qualquer relação. 

O que parece ser interessante na trama são as relações tecidas, os dois tipos de amizade. Uma focada na competição, prejudicial (Euronymous e Varg) e outra uma amizade focada em interesses compartilhados (Dead e Euronymous). Segundo Christe,  autor do livro “Heavy Metal – A história completa”, na década de 1990, a onda de bandas importava o início cru dos pré-inventores do black metal dos anos 80 (Venom, Hellhammer e Bathory) para capturar sua própria e inspirada visão de céus noturnos, belezas naturais e mitos nórdicos. Em uma parte do filme, quando Varg decide incendiar uma igreja com Euronymous ele pronuncia que é um absurdo um altar pagão, destinado a receber homenagens para Odin tenha sido ocupado por uma igreja. Para entender o black metal é muito importante compreender as figuras de linguagem direcionadas ao paganismo e ao satanismo como imagem: são fortes críticas sobre como o cristianismo tomou (e continua tomando), o poder para si utilizando verdades “absolutas” que não valem para todo tipo de existência e explorando medos irracionais do ser humano (a namorada de Euronymous, interpretada por Sky Ferreira) deixa isso no ar em uma parte em que ela indaga Varg se ele sabe a forma que o satanismo é usado no black metal.

Para entender o black metal você tem que entender o que paganismo e satanismo significam ou chegará a conclusão que são apenas garotos mimados que depredam  o patrimônio histórico público.

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O Mayhem era uma banda ritualística e rebelde, que sabia que a imagem tinha um poder muito forte. Euronymous, fundou a banda quando era Oystem Aarseth, de 16 anos, ouvinte de Hellhammer e Venom, que adorava e imitava. Posteriormente adicionou a velocidade de Napalm Death e a ferocidade de Sarcofago. Segundo Mortiis, antigo integrante da Emperor, sem ele o black metal não teria sido o mesmo. Dead foi uma  influência fundamental para a banda. O garoto que tinha obsessão pela morte e seu cheiro, sentia o odor de pássaros mortos e segundo muitos criou a corpse paint inspirada em ídolos como King Diamond e Alice Cooper (a pintura facial que é a marca do black metal).

Cena do filme “Lords of Chaos”: Dead e a fascinação pela morte

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Corpse paint em Dead e Euronymous: ensinando ao amigo o verdadeiro cheiro da morte

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Mayhem encontrou sua dimensão mórbida e poética no vocalista sueco Dead. A banda decorava o palco com cabeças de porco esfoladas, oferecendo a dimensão apropriada para o que acreditavam. Porém Dead tinha uma depressão grave, escondida no fundo de suas atitudes performáticas. Certa vez (o filme também mostra isso), Dead se cortou tão gravemente no palco que quase morreu.

O Dead original em meio à floresta: um sorriso que mascarava problemas graves de depressão.

Dead Lord of Chaos

No filme: atitude mórbida performática que contaminou o Mayhem

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Os momentos mais sinceros e bonitos são os que acontecem em meio à floresta, em que os personagens de Euronymous e Dead ( Rory Culkin e Jack Kilmer, respectivamente) se encontram com eles mesmos e sua solidão.

Fotos originais da época: Dead e Euronymous

Dead e Euronymous

Dead na floresta

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Euronymous e Dead no filme

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No black metal, os encartes eram cheios de imagens de paisagens naturais, abundantes na Noruega. Alardeando solidão como virtude, os músicos adolescentes pareciam os isolados protagonistas literários de romances como os de Knut Hamsun. Ovl Svithjod do “In the Woods” diz no fanzine Petrified: “Acendemos uma fogueira, colocamos música sagradas ou trilha sonora ambiente, conversamos e refletimos sobre os acontecimentos recentes da vida. É, na verdade, um bálsamo para nossas almas”. Essa dimensão poética é a característica mais bonita do filme, mesmo quando a cena é tensa e violenta. Considero um dos maiores méritos, conseguir apresentar a essência do black metal, não somente com a construção exata das atitudes e roupas dos personagens, mas com a atmosfera do que é o black metal. O filme te faz sentir o que te faz humano, por mais racional que a realidade possa te forçar a ser. O black metal é uma estranha harmonia de estética assustadora com uma atmosfera sonhadora e pitoresca, que encontrava em meio à natureza seu símbolo. Era prazeroso estar em meio à floresta, andar pelos seus bosques assim como meditar sobre a vida dentro desse espaço.

Outros méritos do filme, estão nas interpretações dos jovens atores, todas excelentes. Emory Cohen capta a ambiguidade de Varg como ninguém. Rory Culkin está absolutamente fantástico como Euronymous. As cenas da loja Helvete e as conversas sobre o selo Deathlike Silence são maravilhosas para quem foca na história da música. Euronymous tinha contatos com músicos do mundo inteiro quando havia poucas bandas de black metal no mundo. O filme deixa bem claro o tino de Euronymous para o marketing da música. A Sky Ferreira (Ann Marit – namorada de Euronymous) também faz um participação marcante, com poucos mas ricos diálogos. Jack Kilmer (Dead) é uma revelação, apesar de ficar pouco tempo no filme mostra ser um excelente ator. Valter Skarsgard (Faust), interpreta o baterista do Emperor que assassina um homem em 1992 e está assustador. 

Outra coisa que é interessante no filme é o caráter criativo dos jovens, que se maquiam e tiram suas próprias fotografias (como a cena que Ann fotografa Euronymous depois dele passar um longo tempo se arrumando de forma mais assustadora possível). A cena em que Euronymous pinta seu cabelo originalmente marrom de preto (para parecer mais pesado e sinistro) também é algo com que os fãs vão se identificar. Quem nunca fez isso? Hoje em dia com a comercialização intensa da música, o caráter artesanal e criativo tem sido lamentavelmente perdido.

A cena em que Dead ensina Euronymous a se maquiar de forma assustadora com uma corpse paint: caráter artesanal e criativo do rock  está desaparecendo

 

Euronymous também tinha uma loja, “Helvete” bastante retratava no filme. “O Black Metal Inner Circle”, ligado à loja de Euronymous era um espaço em que era compartilhada a filosofia e a música do black metal. Porém em uma espécie de histeria coletiva acabou sendo o espaço em que muitos catarsearam o que realmente tinham vontade de fazer, mas que ficava somente nas metáforas de música e palco. Entre 1992 e 1994, vários jovens da cena black metal foram culpados e presos por atos de violência e por incendiar um total de 24 igrejas. Exceto pelo letrista, Ihsahn, o Emperor foi especialmente inspirado a cometer atos criminosos. O guitarrista Samoth e o baixista Tchort também foram presos. Varg foi condenado pelo assassinato de Euronymous e por mais três incêndios de igrejas e sentenciado à pena máxima na Noruega, 21 anos de prisão. Para quem teima em achar Varg inocente, vai aí a frase dele sobre sua influência nos jovens europeus: “Eu quero criar muitos seguidores, queimar todas as igrejas e expulsar todos os cristãos. Meu exército de incendiários será formado por jovens”. Varg saboreou seu papel de “Count Grishnackh” na mídia, como bem mostrado no filme, não se importando com as consequências, inclusive a morte do “amigo” Euronymous.

Euronymous na Helvete em 1993: sem noção do futuro trágico

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Cabe aos teóricos identificar porque o black metal se tornou algo tão violento em determinada época e local, muitas vezes deixando uma cortina de fumaça que impossibilitou as pessoas de entenderem seu devido valor na história do rock. Se depender de mim o black metal continuará vivo, tanto em sua presença artística inspiradora quanto nas letras assustadoras. O estilo não pode ser definido pelos erros cometidos por alguns.

Black metal inner circle na década de 90

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O estilo de Lil Peep

novembro 26, 2017

Quem foi Lil Peep? Muita gente pode estar fazendo essa pergunta, agora que a morte de Gustav Ahr anda pela mídia, instagram, sites e youtube… o cara era rotulado como “futuro do emo”. Na verdade emo é a maneira que as pessoas encontram de rotular coisas que não podem ser nomeadas. Enfim, Gustav Ahr tinha um estilo bastante peculiar, que mistura elementos de rap e hip-hop com o estilo punk e emo. Eu o vejo como um crust punk com elementos hip-hop e rap (tanto nas tattoos quanto nas roupas). Sobre as cores, isso também é uma herança do hip-hop old school que se prendia muito mais às cores vibrantes e elementos escandalosos, como o Public Enemy. Infelizmente essa herança anda um pouco perdida. Quem acompanha a 1 KG por exemplo, percebe que os caras estão muito mais próximos do estilo hardcore, usam muito preto (mas isso é assunto para um próximo post). Enfim, o próprio Lil Peep fala que não tem um estilo certo para se vestir, ele era muito copiado na época de colégio e absorveu que deveria estar sempre mudando. A única coisa que importa para ele é parecer o mais punk possível.

Legendado por Kobane, Lil Peep explicando suas tattoos e estilo

 

Sobre a música, ah isso é bem louco…tal como o estilo. Especialistas falam que ele faz trap, um estilo instrumental experimental, que incorpora sons e onomatopeias, sintetizadores e até mesmo instrumentos de corda para criar uma atmosfera triste, sombria, cruel e sinistra.  A herança do Lil Peep também alcança o pós-punk e gótico, influência assumida em suas roupas e títulos de músicas. O cara, como todo jovem de seus vinte anos é diretamente ligado na cultura de massa (e a viralização da internet e redes sociais, inclusive como plataforma de trabalho e sucesso), tendo em suas músicas títulos de quadrinhos (como a excelente Hellboy, personagem em que ele se declara fã).

Trecho da música HellBoy

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O emo também é grande influência para Peep, que gosta de “My Chemical Romance” mas vejo que muitas vezes ele soa como “Good Charlotte” (tanto nas referência de videoclipes quanto na música). Ele é fã de “Joy Division” também e podemos notar muitas referências pós-punk em seu trabalho. O conteúdo do trap também um prato cheio para o rap (e para Lil Peep), possui temas como vida cotidiana, pobreza, sexo, desiguadade social, religião, violência, dificuldades e experiências do rapper na sua vida urbana. E isso Lil Peep fazia muito bem: contava experiências de vida, vazios existenciais gerados pela ausência de um amor verdadeiro (e excesso de pessoas “interesseiras” agora que havia alcançado sucesso, além do vício em drogas, a depressão, a maneira como a sociedade encara quem não se encaixa – para isso ele usa além dos lugares-comuns, o tema bruxaria em suas músicas. Então fica bem forte a questão do modernismo, o materialismo e consequente niilismo, gerado pelo esvaziamento e descentramento de um sujeito que clama por ajuda (e está aí algo para pensar, muitas vezes ele fala sobre depressão e problemas com drogas em suas músicas), tal como Kurt Cobain (que ele era fã). Dois jovens que são produtos (e vítimas) de uma sociedade alienada, que trata tais assuntos com desdém (apesar de glamourizar isso o tempo todo). 

Trechos da música “The Brightside”

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Trecho da música “No Respect freestyle”

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Lil Peep também era bem crítico em relação a ostentação. Na mesma música (“Benz Truck”) ele se vangloria de ter um jipe “Mercedes Benz”, a mulher e os amigos que quiser,  para logo depois em uma cena do videoclipe aparecer sozinho em um lugar idílico, com uma igreja ao fundo (inclusive um túmulo). Em outro trecho, posterior a ostentação, ele aparece dentro da Igreja. Ao  fundo,  ícones cristãos em um vitral. A crítica ao materialismo fica bem clara pelo retorno a metáfora visual extremamente forte que faz referência a morte. Como se não bastasse, a placa “All Alone” atrás dele quase no final do clipe.

 

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Ele diz que todos o odeiam (provavelmente pela fama e dinheiro) e fala com humildade que o dinheiro que ele ganha nunca vai mudar quem ele é.

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Lil Peep fazia parte coletivo do GBC, o Goth Boi Clique junto com outros caras, de nomes e estilos tão interessantes quanto ele: Wicca Phase (também adoro a vibe pós-punk dele), Lil Tracy, Horse Head e Cold hart. Esse coletivo teve a intenção de misturar emo, gótico e rap/hip-hop, se possível com mais experimentalismo e ruídos.

GBC

Lil Peep, Lil tracy, Wicca Phase, Horse Head e Cold Hart: Goth Boi Clique

Vamos ao estilo do rapaz? Amo demais! Lil Peep era apaixonado por moda: bonito, alto e magro era queridinho de estilistas pela originalidade do seu visual e suas tattoos.

Lil Peep na passarela e uma clara crítica ao endeusar astros depois da morte: “Quando eu morrer, vocês vão me amar”.  

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Essa é do início da carreira do Lil Peep, bem novinho. Ele começou em 2015.

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Lil Peep já teve franja mais longa e cabelos coloridos, que fazem a gente lembrar bastante da onda emo de anos atrás.

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Camiseta com referência pós-punk (Joy Division)

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As referências cholo e a ostentação do hip-hop sempre presentes: diamante nos dentes.

 

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Ele também poderia soar como um clubber saído dos anos 90, tal como o Keith Flint (“Prodigy”)

 

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Ou como um cholo

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Ou como um cholo pastel goth (ele usava muito rosa)

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As tattoos com referências excelentes:  Tanto Ed Hardy (que fez o desenho da tattoo da sua cabeça) quanto ícones da cultura de massa, cholo e punks. Ele também possui tattoos com o tema “halloween” (pois nasceu na noite do dia 31 para o dia 01/11 – seu aniversário). Outras que chamam atenção, são as tattoos de suas músicas que fizeram mais sucesso: como “Cry Baby” e “Hellboy”.

Nesse video (por FeedTheLyrics), Lil Peep fala sobre Halloween e a vez que se vestiu de Gerard Way mas ficou a cara do Eminem, rs…

 

As referências ao halloween são variadas: os morcegos no pescoço, a abóbora no braço, a data do seu aniversário na barriga e as caveiras são algumas delas.

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Um detalhe excelente de Lil Peep é que ele pintava as unhas de vermelho, eu achei isso muita ostentação! Aqui o estilo dele está mais atual e punk. 

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Um colete que mistura crust punk e pastel goth

 

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No maior estilo rapper, com camiseta de time

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Tênis nike customizado com “GBC – Goth Boi Clique”, seu nome e uma teia de aranha

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Enfim, as referências de Lil Peep são as mais variadas. É dificil de rotular seu estilo ou encontrar um padrão único que se repete em suas roupas. Ele gostava de bastante rosa (às vezes no look inteiro), unhas pintadas de vermelho ou rosa, roupas camufladas, coletes punks, roupas esportivas (com pegada rap e hip-hop), elementos infantis como Hello Kitty e desenhos animados, entre outros.

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Lil Peep merecia ter vivido mais, mas façamos juz ao seu legado. O cara era humilde, simples e amava muito sua família (especialmente sua mãe, com quem tinha uma ligação muito bonita). Escrever sobre ele foi minha homenagem ao “Goth Boi Clique” e principalmente Lil Peep, porque eu acredito que ele era um dos melhores do estilo que fazia e iria mudar profundamente o rock através do trap. Ele é a cara do universo alternativo moderno, que cada vez mais se torna fluído e propenso as mudanças.

Referências do Youtube: Tradutores Rodrigo Castro “Pills and Knives” e Kobane

 

Firme! Cholas y cholos

setembro 2, 2017

Há algum tempo não posto no blog. Decidi voltar apesar de tudo. Não sei se perceberam o estilo da Arlequina e do Coringa em Esquadrão Suicida. Pois estou desde essa época querendo escrever esse post, pois sou fã das cholas e cholos. Para quem não conhece, estilos das gangues latinas nos Estados Unidos. Muita gente já adotou, inclusive quem não é latina como Gwen Stefani.

O clipe mais chola impossível: Gwen adere o estilo esportivo, com calças largas, tênis, touca, boné, listras em casacos esportivos e meias, bandanas e muitas jóias penduradas. O carro também é legítimo lowrider custom. Lembrando que a pin-up também usa o estilo na rotina.

As autênticas cholas latinas

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O estilo de Gwen no clipe: Touca, blusa cropped, calças muito largas e tênis.

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O carro custom do clipe

Pink também adere demais, primeiro porque é fã do estilo pin-up, assim como Gwen. Segundo porque é casada com o ex-piloto de motocross profissional Carey Hart e atual dono do “Hart and Huntington Tattoo”. Com eles a pegada é mais hardcore, com essa linha punk que eles curtem.

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Boné de aba reta e bandana também é classe para os cholos

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Boné de aba reta e roupas largas dos cholos chilenos

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Também entra na lista a modelo pin-up Sabina Kelley, que sempre investiu no estilo chola usando tranças, bonés, elementos rap/hip-hop (e parece ainda mais engajada agora que namora o cholo Nixx).

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Os cholos e cholas hispânicos

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“A loucura é um prazer que só um louco conhece”.

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Sabina faz uma releitura de Trisha da série “Orange is the New Black”, mas no seu dia a dia usa muito tranças.

Sabina

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As cholas também curtem tranças

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Sabina fez duas tattoos de rosas no estilo mais chola possível nas laterais do pescoço e outra tattoo enorme, preto e cinza nas costas (com temática religiosa – principalmente as mãos rezando, muito comum entre as gangues latinas).

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Uma versão com apenas mãos rezando: “Só Deus pode me julgar”.

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Um grande salto no estilo chola, visto que Sabina é fã do colorido e old/new school. Kat Von D, chola pin-up assumidíssima no passado, ainda hoje flerta com o estilo. Não somente nas roupas mas nas tattoos que adota (e desenha), o lettering e o preto e cinza (típico do estilo). Além disso ela possui muitas tattoos com referências latinas, marcando os mesmos locais do corpo e a mesma temática.

O lettering de Kat VonD e de outro artista que aborda a cultura chola: geralmente tattoo nas costas, braços, barriga e peito.

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O análogo do Brasil, “Vida Loka” é o “Mi Vida Loca”, da cultura cholo do leste de Los Angeles. Em cima a cantora Carmem Miranda, no estilo pin-up chola.

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Outra característica da cultura cholo, tattoos no rosto.

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Abaixo a joven Kat Von D, no estilo chola pin-up. 

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Por aqui a coisa chegou com o novo hip-hop (Hungria e Tribo da Periferia por exemplo) e o funk (MC Guimê e Tati Zaqui). Atualmente temos as latinas da série “Orange is the New Black” que representam o estilo das cholas como ninguém. 

Marisol “Flaca” Gonzales

Latina

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Daí fica complicado separar essa mistura de estilo que engloba uma multiplicidade cultural imensa, bem globalizado dentro do estilo urbano. Sobre as tattoos, aqui no Brasil o MC Guimê foi um dos primeiros que ficaram conhecidos por adotar tattoos semelhantes aos de gangues hispânicas como a MS-13.

Integrantes da Mara Salvatrucha na América Latina

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Uma lágrima tatuada embaixo do olho pode significar que durante sua estada na cadeia o detento perdeu um ente querido ou matou alguém. Comum também na cultura chola é a admiração pelo palhaço, que teoricamente para o gangsta é uma zombaria com a polícia (aqui no Brasil também faz uma analogia com a polêmica maconha). Aqui a referência do Coringa e da Arlequina foi bem absorvida, assim como nos EUA pois os estilos dos personagens têm todas as referências cholas: das tattoos lettering em preto e cinza, tattoos embaixo dos olhos e queixo, até o estilo extravagante que adota muitas cores e brilho dourado. 

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Coringa e Arlequina: vida bandida (Thug Life), amor pelo brilho e acessórios extravagantes, roupas e cabelos muito coloridos, tattoos preto e cinza em um estilo “de cadeia”, especialmente no rosto. Herança do hip-hop, rap e cultura cholo.

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Já as letras M e S em caracteres góticos dizem que o detento faz parte da gangue “Mara Salvatrucha”. Presentes nos EUA, El Salvador, Honduras, México e outros países na América Latina. Mesmo com muitos deles presos, a gangue tem uma rede internacional responsável por crimes como tráfico, contrabando e assassinato de inimigos de gangues rivais.

Semelhança entre o personagem “El Diablo” do Esquadrão Suicida e integrante da MS: mesmas referências cholas para tattoos.

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Outros integrantes da gangue “Mara Salvatrucha” na América Latina

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A história da gangue começou com imigrantes que fugiam da guerra civil de El Salvador na década de 80 e ficavam literalmente prensados entre a esquerda e o governo militar. Alguém lembrou de Al pacinho em Scarface (embora cubano) ? Hostilizados por outros jovens da região de Los Angeles, eles decidem formar seu bando “mara”, enquanto “salvatrucha” é o apelido que identifica salvadorenhos.

Aqui no Brasil, com as mulheres do funk, a principal representante chola é Tati Zaqui.

Tati Zaqui, principal referência chola no Brasil. 

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Chola hispânica

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Por aqui o pessoal do skate incorporou muito do estilo cholo/chola, até porquê o gosto para música mudou de punk rock para rap e hip-hop. E ainda, funk. 

Vai fera, achando que toda essa herança é meramente skate…Vamos misturar cultura lowrider, rockabilly, hardcore e nossas raízes latinas.

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Uma chola é praticamente uma pin-up latina, só que com muitas referências hip-hop e culturais/locais. Uma chola (assim como os cholos) não leva desaforo para casa, é rebelde, tem um jeito bem específico de falar (o que torna especial a identificação com a periferia no Brasil). O animal preferido é o cachorro, o pit bull. Ele(a)s também tem um especial amor pela família, que deve ser unida e acima de qualquer traição. Família também é quem fecha junto em todas ocasiões, como amigos.

Arte de Rik Lee define bem a cultura cholo

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Cholas em estilo pin-up: delineador, batom vermelho ou rosa, bandanas e argolas na orelha. Tatoos no estilo “lettering” quase sempre estão presentes.

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Não podemos esquecer o amor desse grupo por carros antigos como pontiac, impala e oldsmobile. Os lowriders são fãs das mulheres, festas e carros (preferencialmente modificados). A população hispânica de Los Angeles, já em 2008 contava com 30% da população. Dos carros dos anos 50 e 60 a suspensão dos veículos é substituída pela hidráulica que permite ao apertar um botão subir e descer dos chassis dos quase sempre coloridos veículos (low and slow) ou baijito y suavecito.  

O cantor Marilyn Manson já incorporou um estilo gótico cholo no clipe de “Tainted Love”, com direito à jóias, dentes de ouro e “low and slow” em seu carro.

Os autênticos cholos e seus carros

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O som que toca nos carros é geralmente hip-hop, não necessariamente cantado por negros mas chicanos como Mr. Capone-E. E os cholos latinos curtem as companhias latinas, não as mulheres brancas divulgadas com o mesmo estilo em revistas na mídia. Alguns lowriders aproveitam a visibilidade de seu estilo e seus carros para chamar atenção para exigir a legalização de hispânicos nos EUA. César Estrada Chávez foi um dos mais emblemáticos militantes pelos direitos civis dos mexicanos na década de 60.

O sindicalista César Estrada Chávez

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Ele possuía um Chevrolet Impala, sempre depositou as esperanças políticas no mais antigo grupo de lowriders de Los Angeles, o Duke’s Car Club. Era um grupo de imigrantes orgulhosos que com seus carros brigavam por mais segurança em bairros hispânicos da Califórnia.

Só para terminar, uma leitura da cultura cholo no clipe da dupla Die Antwoord. É engraçado e sério ao mesmo tempo! Lembrando que o ZEF é uma cultura de periferia na África do Sul, bem semelhante ao funk no Brasil. Eles são geralmente jovens brancos que não aceitaram ou participaram do apartheid, convivendo pacificamente com os negros sem nenhum tipo de preconceito e incorporando culturalmente suas influências.  Então há espaço para pessoas não necessariamente dentro do padrão de beleza, mas imperfeitas como na realidade. Uma pegada hip-hop e gangsta (especialmente na valorização do graffite e pichação). Note o estilo inteiramente cholo do namorado de Yolandi Visser no clipe, além da crítica social sempre presente ao machismo de seu irmão (seu parceiro de banda Ninja). Vemos também a valorização do motocross e da cultura lowrider pelo namorado de Yolandi. É interessante esse viés de resistência dentro da periferia que se manifesta culturalmente em um estilo que muitos alternativos que curtem rock ainda possuem preconceito e por isso mesmo não entendem. Acredito que isso advém do fato do estilo gangsta estar relacionado à vida no crime. Além disso temos a maneira como estilos musicais como o funk são criticados por falar de sexo, mas a mesma sociedade hipócrita aceita temas semelhantes em estilos musicais como pop e rock, diminuindo o funk inconscientemente por estar na favela. Mas devemos lembrar que esses mesmos indivíduos são frutos de um meio de poucas oportunidades, em que sua distração é essa cultura que se identificam. É impossível falar de gangsta sem falar da maneira que a população mais pobre é tratada pela sociedade. E isso só pode ser entendido por quem vive nesse meio.

Under the Skin (Sob a Pele)

janeiro 16, 2016

Há anos as pessoas me perguntam se sou feminista na internet como se fosse uma agressão e até com surpresa. Lembro que alguns homens que hoje se tornaram meus amigos, faziam menção a minha aparência para diminuir, como se eu nao pudesse ser feminista por causa dela. Eu estudava o feminismo ardentemente, a ponto de fazer um projeto de mestrado sobre. Ao mesmo tempo eu sempre ficava em dúvida, será que sou mesmo feminista? Tem várias coisas que eu não concordo com o feminismo. Mas eu tenho mais certezas que dúvidas. E sabe como eu entendi o feminismo? Nos relacionamentos amorosos com os homens.  Eu sempre fui amiga deles, desde que eu fosse mais um homem no grupo. Eu não tenho raiva dos homens, tenho muitos amigos e a maior parte possui uma mentalidade incrível. Tenho adiado esse post pois queria prepará-lo antes com posts um pouco mais esclarecedores e leves sobre a questão homem e mulher.

A verdade cruel é que muitos homens e muitas mulheres continuam separando as mulheres em classes e sendo machistas muitas vezes. Mas nem todo(a)s, ainda bem!

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Sim, existem muitos tipos de mulheres. Cada uma em seu estereótipo, mesmo que não aceitemos não há muito o que fazer sobre o que somos e o que pensam sobre nós. Meus últimos posts tem sido uma abertura para falar desse filme que vi há algum tempo, mas é muito pertinente atualmente. É um dos filmes mais belos e inteligentes que já vi. “Under the Skin” ou “Sob a pele” de Jonathan Glazer é um filme com a Scarlett Johansson. E penso que não poderia ser outra atriz. Ela mesmo um estereótipo de mulher sexy, uma Marilyn da nova geração e também extremamente talentosa. Tem uma postura bem firme em nao ceder a magreza excessiva, abrindo mão de sua feminilidade. Recebeu críticas horríveis em relação ao seu corpo com esse filme, como se esperassem que o corpo dela fosse mais belo. É um tanto machista para a arte que a moça faz nesse filme, rebaixar o entendimento dele ao nível tão fútil. Além de ser uma grande atriz, ela é uma bela atriz, usando seu belo corpo. Sim, ela interpreta tão bem nesse filme, que não vemos a nudez da atriz literalmente, mas como metáfora. Por isso o titulo – Sob a Pele.

Todas as mulheres já se perguntaram como seria se gostassem delas sob a pele.

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O fato de a moça ser uma alienígena no filme é uma metáfora também, para discussões interessantes sobre o posicionamento da mulher com a questão do amor e da sexualidade. Vemos isso muito bem dividido no filme, na primeira parte em que Scarlett é uma motorista que “caça” homens para levar embora para seu planeta. Cada um possui uma conduta diferente, um jeito diferente e uma opção diferente. Ela encontra homens que a recusam porque são comprometidos, homens que escondem a aliança, homens bonitos como ela e outros normais.

Scarlett Johansson – uma alienígena que nao precisaria buscar niguém, empreende uma busca que nunca acaba.

Scarlett Johansson in 'Under the Skin'

E na cena mais poética na minha opiniao, ela tem um diálogo muito bonito com um rapaz que possui deficiência no rosto chamada neurofibromatose e por causa disso nunca foi escolhido por mulher alguma. Mais que uma metáfora de uma alienígena nós temos as etapas de seducao, em que os homens não são nada mais que objetos nas mãos de Scarlett. E essa metáfora é representada em um líquido escuro em que sao afundados enquanto a seguem. Scarlett aparece inteira em posição sólida e sexy. A trilha sonora é angustiante.  E depois desse rapaz com neurofibromatose ela tem a real mudança em sua história na Terra como alienígena. Ela vive a real Epifania, como se comparassemos a sua história às narrativas de Clarice Lispector.

O belo e o grotesco, uma alegoria do Romantismo – A Bela e a Fera, Corcunda de Notre Dame e Esmeralda… Através do belo magnânimo é revelado que embaixo da pele há um outro tipo de beleza.

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Posteriormente temos a mulher na relação natural com o homem. Scarlett descobre o interesse amoroso e a sexualidade, de fato com um homem que parece acolhe-la. É interessante acompanhar sua confusão mental, já que no momento da caça ela é altamente fria e imparcial. Aqui ela mostra uma faceta humana e sensivel própria da mulher. A que sente medo e ao mesmo tempo prazer em se entregar. Nessa parte do filme Scarlett é acolhida e cuidada por um homem que a trata muito bem, que tem um interesse real nela como uma pessoa e preocupações com o que ela sente ou pensa. Muito além da atração sexual que ele sente por ela.

Pela primeira vez Scarlett, a alienígena perde o controle sobre suas ações. E aí ela se desespera.

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Em um terceiro momento, o mais agressivo de todos, Scarlett é caçada. E se torna vítima em uma cena chocante em que é revelado o que esconde sua pele. Durante muito tempo eu não via algo que mexesse tanto comigo. É uma cena de tentativa de estupro que acaba de uma forma extremamente triste. Não é uma cena que explora a violência, mas uma cena muito forte e ao mesmo tempo muito bem construída. A mulher é descoberta como uma alienígena, embaixo de sua pele ela revela o que realmente e, sendo cruelmente punida por isso. É uma cena triste e isolada que fiquei pensando durante semanas. Talvez porque quase toda mulher já tenha passado por provável situação, não com estupradores de verdade, mas com namorados ou ficantes, talvez tenham se mostrado completos desconhecidos.

Na pior conduta de todas, a alienígena descobre o amargo sabor da violência e do preconceito.

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Vale lembrar que todo o filme possui uma atmosfera belíssima com bonitas estradas e paisagens, tornando a fotografia muito agradável e próxima de nós. Inclusive a cena forte que descrevi. É um filme silencioso, dramático, intenso, psicológico e que possui poucos mas precisos diálogos.

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O filme Under the Skin é uma corajosa produção que diz muito sobre feminismo, mas também sobre as relações que as mulheres nutrem com os homens e talvez a nítida confusão mental que as mulheres e homens se encontram atualmente, massacrados pelas convenções da sociedade e o que esperam um do outro. E um filme filosófico, que não empurra a culpa para ninguém apenas explana a ideia do quanto o ser humano e frágil em suas relações pessoais.

O lugar onde tudo termina

novembro 19, 2015

Há algum tempo eu tento escrever sobre esse filme fantástico, na verdade desde o início do ano quando tive a oportunidade maravilhosa de vê-lo. Eu sou muito fã de Eva Mendes e Ryan Gosling. Esse filme me comoveu muito, talvez porque eu estou analisando os diversos setores da minha vida. Nos últimos anos eu não tenho gostado muito da maneira que vivo, em uma rotina exaustiva de trabalho e sem ter tempo de fazer o que eu gosto. É certo que a qualidade de vida no setor financeiro mudou para melhor, mas não vivemos somente disso. Depois que minha mãe morreu eu coloquei na minha cabeça que eu não posso mais perder meu tempo. Nunca houve metáfora mais correta que da ampulheta, não há mais tempo para tentativas de ser feliz. Ou eu me satisfaço com minha vida ou era melhor não ter existido. Como a segunda opção não é possível no meu mundo, eu só tenho a primeira alternativa.

O filme de “O lugar onde tudo termina” fala sobre opções de cada um, nós sempre achamos que temos escolha, mas às vezes ela não é a mais correta e acaba reverberando na vida de quem vem depois, como os filhos. Eu sempre achei que o cara que estava na foto com minha mãe e minha irmã (quando era bebê) era o pai da minha irmã, mas uma semana depois que minha mãe morreu minha irmã disse que não era. Ela disse que não quer conhecer o pai, que isso era uma resolução tranquila para ela. Aquele na foto era um pai para ela, mesmo que não fosse biológico. A mãe sempre falou bem dele mas ela nunca chegou a conhecer, já que se separaram. Minha mãe nunca contou sobre o passado e algumas coisas foram embora junto com ela. Talvez seja por isso que eu e minha irmã sejamos figuras femininas fortes, nós não tivemos uma figura paterna forte. Meu pai era completamente dependente da minha mãe que era líder e agora depende de nós cuidar dele.

A vida de Ryan Goslin no filme é desregrada. Ele é um motociclista, o melhor de todos no que faz. Mas está completamente perdido. Ele tem a beleza, tem o estilo, trabalha em um parque de diversões em um globo da morte. Mas está perdido da vida e encontra um motivo para viver com um acontecimento em sua vida. Esse acontecimento é o seu ex-caso que decide visitá-lo e ele redescobre um interesse pela moça. No momento em que ele está decidido à partir da cidade, ele tenta visitá-la em casa. E descobre que tem um filho com ela, através de sua “sogra”.  Luke (Ryan Gosling), entra em modo desespero ao saber que é pai e vê a perspectiva dele voltar a namorar Romina (Eva Mendes), por que a faísca inicial que sentia por ela é despertada pelo seu lado paterno, pela responsabilidade que ele sente pelos dois. Em certa parte do filme ele pronuncia: – Todos precisam de um pai Romina, eu não tive um e veja o que eu me tornei.

Luke e Romina

 

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Luke se despede do circo e quer que Romina vá junto com ele e seu filho, porém Romina não sente segurança em Luke. E acaba substituindo o rapaz por um pai de família que seu filho realmente precisa (e não pelo cara que ela gosta). Sem emprego, a semente da ideia deturpada de ganhar dinheiro é plantada na cabeça de Luke por seu chefe atual, um mecânico de motos que descola um emprego mal remunerado ao rapaz. E aí as encrencas de Luke começam, justificadas pelo filho que ele tem para sustentar e um bom pai que ele tenta ser.

 

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Mas seu temperamento explosivo e impulsivo mais afasta Romina e consequentemente seu filho, que ainda é um bebê. Mas isso é apenas a origem da história, como falam por aí há acontecimentos que a razão desconhece e coincidência é um termo muito simples para determinadas coisas que acontecem na vida e reverberam na vida dos que amamos, sejam eles os filhos ou quem nos apaixonamos.

 

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O filho de Luke, Jason: a procura pelo pai que a mãe omite é a procura por ele mesmo e quem ele é.  A descoberta mais decepcionante de sua vida não é sobre o pai, mas sobre o que fizeram com ele. 

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E os segredos dos pais reverberam em uma amizade ingênua entre dois  filhos de pais diferentes, com destinos diferentes: um trágico, heróico e condenável e um honroso, heróico e também condenável. Qual a diferença entre os dois pais? Se o filho do “bandido” tem condutas esperadas de um garoto de sua idade e humildade, fruto de uma família simples,  enquanto o filho do “policial” tem condutas imorais ou amorais, um ego maior que a empatia por qualquer pessoa que não possa tirar algum proveito. Coincidências demais para achar que as coisas acontecem por acaso.

Os filhos de Avery Cross (Bradley Cooper) – AJ (Emory Cohen) e Luke (Ryan Gosling) – Jason (Dane DeHaan): amizade ou vampiragem emocional por parte de AJ?

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Luke e Avery, a sociedade te dá o papel que você deve interpretar. Mas nada é tão fácil quanto parece.

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O estilo do jurado Glenn Hetrick do Face Off (SyFy)

novembro 2, 2015

No início do ano comecei a ver Face Off meio que por acaso, pois estava vendo Best Ink (eu acho) no SyFy, então me deparei com um programa que parte do princípio de um realitty show com maquiadores de efeitos especiais, a cada dia é dada uma tarefa que eles resolvem em grupo ou individualmente. Já fizeram dark elfs, palhaços aterrorizantes, fadas, cavaleiros medievais, rockstars incorporados fisicamente à suas guitarras, aliens, maquiagens baseadas no mundo de Tim Burton, elfos e uma série de outras maquiagens fantásticas. Claro que sempre tempos favoritos entre os participantes, mas isso é assunto para outra postagem. Quem me chama atenção no programa é Glenn Hetrick, um dos jurados do Face Off.

Glenn Hetrick à esquerda junto com o jurado Neville Page (especializado em ilustração e design gráfico de games, filmes e maquiagens) no Face Off, analisando uma das maquiagens dos participantes.

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Glenn já trabalhou com os efeitos de maquiagem de Legião, Jogos Vorazes, Buffy – a caça vampiros, CSI:NY, Heroes e Arquivo X. Além do mestre de filmes de zumbi George Romero. 

Glenn, ainda jovem trabalhando em um zumbi.

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Mordidas e arranhões de zumbi, feitos por Glenn

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Maquiagens do estúdio de Glenn Hetrick, Optic Nerve Studios incluindo o demônio de “Buffy a caça vampiros”.

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Também já fez trabalhos para a banda Misfits, produziu a guitarra e figurino de Lady Gaga. E o que mais admiro nele, ele realmente coloca a mão na massa e ensina os artistas, também ajuda a produzir em seu estúdio o Optic Nerve Studios. Trabalhou com outra jurada que adoro pelas tiradas de humor, a ótima Ve Neill. Inclusive ela que ameniza a sinceridade exacerbada de Hetrick, que na verdade nem ele nota mas às vezes soa grosseiro e arrogante (totalmente perdoo, pois também sou assim e nos últimos anos tenho me vigiado para não ser, principalmente com meus alunos adolescentes). Tirando isso ele faz observações certeiras para evolução dos artistas, não é nada no sentido de humilhação como vemos constantemente em Ink Master, quando vemos os jurados jogando competidores uns contra os outros. A análise do trabalho feito é o que deve ser mais importante. E os artistas realmente melhoram após suas críticas e Glenn também elogia quando algo fica muito bom, incentivando os participantes, dando dicas no que podem melhorar.

Antes que me acusem de não acentuar desdém, a fonte que usei não acentua. Rs…

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Eu gosto muito do clima do programa, primeiro porque adoro fantasia, terror, essas loucuras medievais, aliens e monstros me fazem pirar.

Uma das criações mais lindas do programa, em que o tema era criar seu próprio dragão com elementos como gelo, fogo, ar… Tyler Green criou um dragão do gelo que fundiu com um abutre. Ficou espetacular!

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Dragão

E depois porque parece o ambiente da sala de escultura de quando estudei na faculdade, me recordo de tudo das aulas do Ricardo Cristofaro, desde o conceito no desenho, explicações até a hora da execução, os sucessos e erros dos participantes. É a real de quem faz graduação em Artes. E também pela minha prática com os alunos, lembro de moldes de máscaras, pés e mãos em gesso e o processo não era muito diferente.

Sobre o estilo do Glenn eu adoro suas tattoos inspiradas na Dança Macabra em estilo não muito difundido no Brasil ainda, o engraving (gravura):

Engraving

Glenn Hetrick, a Hellertown native is one of the three judges on ÒFace OffÓ the reality series which starts its third season Aug. 21 on SYFY /(Ed. Note: FEATURES)

Sua tattoo no peitoral com estilo realista também é muito legal, dois relógios, um corvo (?) e memento mori (expressão em latim que diz “Lembre-se que você é mortal”).

Memento mori

Sobre o estilo do Glenn, acho perfeito. Ele mistura suas referências góticas e metal, pode estar vestido tanto de maneira básica quanto com roupas steampunk, vitorianas, clássicas…ele é uma prova que o preto não precisa ser usado de maneira sempre igual. E como cores secundárias usa branco, cinza, marrom, vinho…sempre com unhas pretas e acessórios de metal, assim como suas argolas nas orelhas que são marca registrada.

Roupas simples com acessórios de metal variados em estilo medieval, celta e steampunk. Ele possui muita influência tribal e heavy metal.

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FACE OFF --

Influência vitoriana no casaco e colete, misturada à calça de couro no estilo motociclista

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FACE OFF -- Season:5 -- Mini Gallery -- Pictured: (l-r) Neville Page, Ve Neill, Glenn Hetrick -- (Photo by: Tommy Garcia/Syfy)

A touca de Glenn é usada de maneira diferente, com acessórios de metal, um tanto tribal e heavy metal

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Ele usa muito couro, inclusive blazer que dá um ar mais elegante que a jaqueta.

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Novamente com elementos vitorianos, como a cartola

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Em um encontro, sobrevivente de um mundo pós-apocalíptico: elementos tribais e heavy metal.

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Glenn Hetrick o jurado que nunca ri, mistura de Nicolas Cage fortão e John Travolta em “A Reconquista” parece ter saído de um futuro caótico, pós-apocalíptico, dark e monstruoso. E assim que gostamos dele. Ele é o equilíbrio perfeito da personalidade da simpática e divertida Ve Neill, que já trabalhou junto com ele em filmes e séries e agora é sua amiga de Face Off.

A Comic-Con Internacional de 2013, Glenn e Ve.

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Boho goth: O que a Arte tem a ver com isso?

junho 4, 2015

Para começar eu acredito que o boho goth nunca foi uma tendência, acho que sempre esteve impregnado de uma maneira ou outra no inconsciente coletivo gótico, podemos perceber uma influência oriental muito grande já no Romantismo, alguns escritores faziam uso disso em seu estilo exótico, pois a orientalidade emanava mistério e aos olhos dos europeus era sombrio e um tanto marginal (estar a margem da cultura dominante). Lembrando que isso emanou também na arte e até mesmo no Brasil, onde figuras orientais e cavaleiros medievais foram substituídos pelos índios, mais próximos do nosso folclore e próximos do Romantismo pela representação da pureza nunca afetada pelo homem moderno que faz parte da sociedade comum e suas obrigações, tanto financeiras quanto filosóficas.

Nesse retrato feito pelo artista Thomas Phillips, Lord Byron aparece com traje tradicional albanês, ele usa um estilo oriental.

(c) Government Art Collection; Supplied by The Public Catalogue Foundation

(c) Government Art Collection; Supplied by The Public Catalogue Foundation

A minha cena preferida de “A Rainha dos Condenados”, filme tão odiado por todos porque o Lestat de “Entrevista com o vampiro” era bem mais semelhante ao Lestat dos livros de Anne Rice, tanto psicologicamente quanto fisicamente. Lestat se aproxima interessado de uma cigana que também se sente atraída por ele (e esse acesso ocorre através da música, pelo qual ambos são atraídos). Os exóticos sempre se aproximam e há um fetiche da cultura diferente da européia dentro do Gótico/gótico e do Romantismo. Eu ainda acho que um dos grandes méritos do filme “A Rainha dos Condenados” é trazer uma cantora negra para o papel de Akasha, coisa que parecia impensável em filmes anteriores. mas a própria Anne Rice não chegou a especificar qual seria a etnia de Akasha.

É impossível não lembrar das dançarinas de tribal fusion, a minha favorita é Zoe Jakes pela ousadia em misturar ritmos que nada tem a ver com belly dance e movimentos que misturam os clássicos orientais, indianos e até hip-hop e jazz. Pode parecer estranho, mas isso tudo dá certo, nessa dançarina de tribal fusion. Eu sou encantada com tribal fusion, justamente por permitir essa liberdade em belly dance. Os figurinos de Zoe também são um show à parte, eu vejo muita orientalidade e uma influência folk muito nítida.

Nessa apresentação, Zoe incorpora todo o conceito dos anos de 1920, desde à art nouveau no estilo de Mucha, cabaret até o jazz.

Já aqui, jakes em uma performance solo tem influências de dança indiana e em certo momento faz  a mesma careta da deusa Kali, a deusa da destruição e da morte (mas também da transformação, já que para criar tem haver a destruição posterior das estruturas firmadas), a força feminina símbolo da vida e fertilidade.

Kali

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Zoe Jakes

 

É impossível não lembrar também de uma banda alemã que aprecio muito, chamada Faun. Eu estou de olho na banda há vários anos desde que passei por uma fase de viking metal/folk metal em 2008. E até hoje adoro isso, porque adoro mitologia grega/romana, eslava, finlandesa, egípcia, celta, nórdica, medievalismo… Eu não posso dizer que é uma fase porque sempre estou em busca de algum livro ou filme sobre, não sei até que ponto isso afeta meu estilo na hora de me vestir (as pessoas devem olhar e não entender nada, mas para mim meu estilo é coerente). Enfim, olhem essa pintura que eu amo, do Goya, “O Sabá das Bruxas”, da série de pinturas negras que ele fez para criticar a Santa Inquisição:

 

Goya

Nesse quadro é representada uma reunião de bruxas no qual o ser chifrudo parecido com o bode representa o mal, elas oferecem crianças em sacrifício à ele. Obviamente a lua é representada também na composição, pois todo ciclo de colheita, calendários e comemorações eram guiados pela sua posição. É obviamente uma alegoria, com chifres ornados com ramos, nos faz perceber a influência folk notável em pintores de períodos anteriores, ao representar as ninfas e sátiros por exemplo. O bode é sempre representado como mal (Satanás), isso antecede Baphomet, divindade pagã popularizada no século XIV. O bode sempre foi um símbolo de fertilidade, os sátiros/faunos que eram metade bode e metade humano dentro da mitologia eram tidos como seres incontroláveis sexualmente que se refugiavam com as ninfas para manter relações sexuais na floresta. Mas também gostavam de vinho e da música.  Eles representavam um arquétipo do descontrole pela busca do prazer, os excessos sexuais, pela bebida e pela música. No hedonismo como termo grego, o prazer era o supremo bem da vida humana. Posteriormente no Iluminismo, passou a significar o prazer egoísta, imediatista, a busca de prazeres momentâneos. O Cristianismo condena os excessos de prazer assim como as crenças pagãs dos diversos povos, portanto a figura do bode foi perseguida como pagã e demonizada na forma de Satanás, assim como os comportamentos fundamentados nos excessos, seja com a bebida ou com o sexo. Ambos, ninfas e sátiros estão ligados com as festas da colheita e à fertilidade.

Devemos nos lembrar que o teatro grego nasceu do culto à Dionísio, nos festivais de caráter dramático (alegre ou sombrio) de ditirambo, em que as pessoas se vestiam como sátiros e acompanhavam o canto coral com flautas, liras e tambores. Alguns dizem que as peles de sátiros também incorporavam um falo.

A obra de Peter Paul Rubens, “Dois Sátiros” – 1618-19: A uva é matéria para o vinho

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O Pã ou Lupercius é o deus dos bosques, dos rebanhos e dos pastores, é representado com pernas e chifres de bode. Amante da música traz com ele uma flauta, frequentemente visto na companhia das ninfas. Pã era uma entidade maior que os sátiros. Mas todos estão ligados com o conceito da natureza, a lua chamada de Selene foi o grande amor de Pã.

Representação de Pan

PanRepresentação de Selene

Lua Selene

Representações dos dois juntos

 

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Pan e Selene

As ninfas, deusas espíritos da natureza geralmente são representadas com coroas de flores ou ramos na cabeça.

Um detalhe da pintura de Botticelli, a primavera com representação de uma das ninfas

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Eu gosto muito desse vídeo da banda alemã Faun, há um ritual que nos faz lembrar as festas da primavera ou vinho em honra à Dionísio. Várias ninfas dançantes e o encontro entre Pã (vestido em sua pele de cordeiro para não assustar a amada com sua aparência grotesca) e Selene (a deusa da Lua).

Atentos à toda História, Arte e mitologia por trás do boho goth, fica bem mais interessante usar alguns símbolos como a lua, as fases da lua, os chifres, os colares (adornos)…quem sempre gostou fique atento para essa influência cultural acerca do estilo.

Acessórios tribais com diversas influências culturais, as fases da lua onipresentes em camisetas, saias e acessórios, ear cuffs com influência celta e medieval, os adornos com chifres/cornos, adornos indianos na cabeça e mãos, mãos pintadas com henna e unhas pretas,  a coroa com flores ou ramos…As diversas influências do Boho goth perpassam os anos de 1970 e o gótico em suas temáticas medievais, exóticas, tribais e mitológicas.

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Lua

Fases da Lua

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EarCuff

Chifres

Adornos

Hena

Anéis

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Eu gosto tanto desses temas que tenho três painéis no Pinterest para quem acompanha: Viking force, celtic dreams and medieval things Boho Goth Zoe Jakes and tribal fusion

Algumas aquisições minhas no estilo baho goth, pulseiras, anel e colares, além de lenços (não está tudo aqui, apenas o que eu mais gosto). Ao fundo o Yggdrasil que ganhei de presente e ainda não pintei. E leituras sobre o tema, livro sobre a História das bruxas e inquisição e livro sobre mitologia mundial na página da mitologia eslava e a Baba Yaga.

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