O ABC da Morte
Ontem em um final de dia sem muito o que fazer, eu acabei ligando a televisão no canal HBO Plus e chamei minha irmã que é minha companheira mais corajosa de filmes de terror. O ABC da Morte é um filme que usa a liberdade criativa de vários diretores do mundo, sem nenhuma intervenção externa na criação de vários curtas com o tema morte. Cada um foi sorteado com uma letra, pensou em uma palavra e criou seu curta. Há curtas de animação em massa de modelar, desenhos, filmes…
É claro que podemos ver nos curtas a manifestação cultural de cada cultura de cada país envolvido, por exemplo nota-se a obsessão dos orientais, por perversões sexuais das mais diversas, o que às vezes pode fazer alguns espectadores não acreditarem no que estão vendo.
L de Libido do diretor Timo Tjahjanto
Outra obsessão são as velhas estórias de mangá/anime em que aluno(a)s são seduzidas por professore(a)s. mas claro, também há muita crítica envolvida à História do Japão, a questão ainda não tão bem resolvida das bombas nucleares e deformações congênitas de várias gerações de japoneses e a dominação americana dentro do território japonês. Então é preciso ir além do que vemos para interpretar culturalmente as estórias e seus criadores.
Há ainda uma homenagem aos filmes de samurais, em que o rosto de um dos samurais se transforma, lembrando gravuras japonesas, até cometer seppuku, em J de Jidai-geki (Samurai movie) dirigido por Yûdai Yamaguchi.
Outra crítica interessante que noz faz lembrar de antigos desenhos animados do lobo seduzido por alguma espécie feminina é H de Hydro-Electirc Diffusion dirigido por Thomas Malling.
A clássica cena do lobo seduzido pela mulher, o arquétipo do desejo masculino e sedução feminina
Em uma atmosfera quase dieselpunk, nos lembrando da segunda Guerra Mundial, um cachorro humanóide representado pelos Estados Unidos é seduzido por uma mulher raposa, nazista. Uma homenagem ao Furry Fandom, uma subcultura identificada por personagens que misturam características antropomórficas de animais e pessoas. Há também um fetiche sexual por trás da figura dos furrys.
Há espaço para críticas há questão dos atuais padrões de beleza das mulheres, como o caso de Xavier Gens com o curta X de XXL, em que uma moça gordinha cansada de ser pressionada por padrões de mulheres magras (as mulheres francesas são reconhecidas por sua magreza, sendo o lugar do luxo e da moda sabemos o porquê) acaba cometendo um ato insano.
Eu gostei muito de D de Dogfight de Marcel Sarmiento por nos trazer a atmosfera dos clubes de luta, de forma nua e crua envolvendo pessoas de diversas faixas etárias e origens étnicas. Dá para sentir o calor e a tensão envolvidas na prática e com um final surpreendente.
Outro que eu realmente gostei foi S de Speed, dirigido por Jake West. Um cenário de deserto e duas mulheres sexys com roupas de látex acabam descobrindo a morte através da sombria verdade por meio de um delírio. Uma homenagem mórbida à Death Proof (2007) de Tarantino ou Faster Pussycat! Kill ! Kill! (1969) de Russ Meyer,
Há ainda espaço para paranormalidade futurista em um ambiente completamente cyberpunk criado por Kaare Andrews em V is for Vagitus (The Cry of a Newborn Baby), uma versão apocalíptica e crítica para como o ser humano irá lidar com a superpopulação do mundo. E um arquétipo de um messias com poderes sobrenaturais. me faz lembrar o trecho da bíblia em que Herodes manda matar todos os bebês com a finalidade de assassinar Jesus Cristo.
Em Y de Young Buck de Jason Eisener, um garoto se vinga usando elementos simbólicos de seu agressor pedófilo.
Obviamente, não consegui lembrar de todos os curtas, porém tem outros tão interessantes quanto. É para assistir sem carregar nenhum tipo de preconceito que abale a interpretação do que está vendo.