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Under the Skin (Sob a Pele)

janeiro 16, 2016

Há anos as pessoas me perguntam se sou feminista na internet como se fosse uma agressão e até com surpresa. Lembro que alguns homens que hoje se tornaram meus amigos, faziam menção a minha aparência para diminuir, como se eu nao pudesse ser feminista por causa dela. Eu estudava o feminismo ardentemente, a ponto de fazer um projeto de mestrado sobre. Ao mesmo tempo eu sempre ficava em dúvida, será que sou mesmo feminista? Tem várias coisas que eu não concordo com o feminismo. Mas eu tenho mais certezas que dúvidas. E sabe como eu entendi o feminismo? Nos relacionamentos amorosos com os homens.  Eu sempre fui amiga deles, desde que eu fosse mais um homem no grupo. Eu não tenho raiva dos homens, tenho muitos amigos e a maior parte possui uma mentalidade incrível. Tenho adiado esse post pois queria prepará-lo antes com posts um pouco mais esclarecedores e leves sobre a questão homem e mulher.

A verdade cruel é que muitos homens e muitas mulheres continuam separando as mulheres em classes e sendo machistas muitas vezes. Mas nem todo(a)s, ainda bem!

Pitty2

Sim, existem muitos tipos de mulheres. Cada uma em seu estereótipo, mesmo que não aceitemos não há muito o que fazer sobre o que somos e o que pensam sobre nós. Meus últimos posts tem sido uma abertura para falar desse filme que vi há algum tempo, mas é muito pertinente atualmente. É um dos filmes mais belos e inteligentes que já vi. “Under the Skin” ou “Sob a pele” de Jonathan Glazer é um filme com a Scarlett Johansson. E penso que não poderia ser outra atriz. Ela mesmo um estereótipo de mulher sexy, uma Marilyn da nova geração e também extremamente talentosa. Tem uma postura bem firme em nao ceder a magreza excessiva, abrindo mão de sua feminilidade. Recebeu críticas horríveis em relação ao seu corpo com esse filme, como se esperassem que o corpo dela fosse mais belo. É um tanto machista para a arte que a moça faz nesse filme, rebaixar o entendimento dele ao nível tão fútil. Além de ser uma grande atriz, ela é uma bela atriz, usando seu belo corpo. Sim, ela interpreta tão bem nesse filme, que não vemos a nudez da atriz literalmente, mas como metáfora. Por isso o titulo – Sob a Pele.

Todas as mulheres já se perguntaram como seria se gostassem delas sob a pele.

Under-the-Skin-05

O fato de a moça ser uma alienígena no filme é uma metáfora também, para discussões interessantes sobre o posicionamento da mulher com a questão do amor e da sexualidade. Vemos isso muito bem dividido no filme, na primeira parte em que Scarlett é uma motorista que “caça” homens para levar embora para seu planeta. Cada um possui uma conduta diferente, um jeito diferente e uma opção diferente. Ela encontra homens que a recusam porque são comprometidos, homens que escondem a aliança, homens bonitos como ela e outros normais.

Scarlett Johansson – uma alienígena que nao precisaria buscar niguém, empreende uma busca que nunca acaba.

Scarlett Johansson in 'Under the Skin'

E na cena mais poética na minha opiniao, ela tem um diálogo muito bonito com um rapaz que possui deficiência no rosto chamada neurofibromatose e por causa disso nunca foi escolhido por mulher alguma. Mais que uma metáfora de uma alienígena nós temos as etapas de seducao, em que os homens não são nada mais que objetos nas mãos de Scarlett. E essa metáfora é representada em um líquido escuro em que sao afundados enquanto a seguem. Scarlett aparece inteira em posição sólida e sexy. A trilha sonora é angustiante.  E depois desse rapaz com neurofibromatose ela tem a real mudança em sua história na Terra como alienígena. Ela vive a real Epifania, como se comparassemos a sua história às narrativas de Clarice Lispector.

O belo e o grotesco, uma alegoria do Romantismo – A Bela e a Fera, Corcunda de Notre Dame e Esmeralda… Através do belo magnânimo é revelado que embaixo da pele há um outro tipo de beleza.

Scarlett Johansson - Under the Skin - BD - 7_4-500

Posteriormente temos a mulher na relação natural com o homem. Scarlett descobre o interesse amoroso e a sexualidade, de fato com um homem que parece acolhe-la. É interessante acompanhar sua confusão mental, já que no momento da caça ela é altamente fria e imparcial. Aqui ela mostra uma faceta humana e sensivel própria da mulher. A que sente medo e ao mesmo tempo prazer em se entregar. Nessa parte do filme Scarlett é acolhida e cuidada por um homem que a trata muito bem, que tem um interesse real nela como uma pessoa e preocupações com o que ela sente ou pensa. Muito além da atração sexual que ele sente por ela.

Pela primeira vez Scarlett, a alienígena perde o controle sobre suas ações. E aí ela se desespera.

under-the-skin-movie-photo-5

Em um terceiro momento, o mais agressivo de todos, Scarlett é caçada. E se torna vítima em uma cena chocante em que é revelado o que esconde sua pele. Durante muito tempo eu não via algo que mexesse tanto comigo. É uma cena de tentativa de estupro que acaba de uma forma extremamente triste. Não é uma cena que explora a violência, mas uma cena muito forte e ao mesmo tempo muito bem construída. A mulher é descoberta como uma alienígena, embaixo de sua pele ela revela o que realmente e, sendo cruelmente punida por isso. É uma cena triste e isolada que fiquei pensando durante semanas. Talvez porque quase toda mulher já tenha passado por provável situação, não com estupradores de verdade, mas com namorados ou ficantes, talvez tenham se mostrado completos desconhecidos.

Na pior conduta de todas, a alienígena descobre o amargo sabor da violência e do preconceito.

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Vale lembrar que todo o filme possui uma atmosfera belíssima com bonitas estradas e paisagens, tornando a fotografia muito agradável e próxima de nós. Inclusive a cena forte que descrevi. É um filme silencioso, dramático, intenso, psicológico e que possui poucos mas precisos diálogos.

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O filme Under the Skin é uma corajosa produção que diz muito sobre feminismo, mas também sobre as relações que as mulheres nutrem com os homens e talvez a nítida confusão mental que as mulheres e homens se encontram atualmente, massacrados pelas convenções da sociedade e o que esperam um do outro. E um filme filosófico, que não empurra a culpa para ninguém apenas explana a ideia do quanto o ser humano e frágil em suas relações pessoais.

2 Comentários leave one →
  1. maio 12, 2016 6:56 pm

    Nunca vi uma análise tão intensa sobre um filme.
    Já tinha lido algumas resenhas sobre ele e colocado na minha listinha de quero ver. Depois desse seu texto, só tive mais certeza de querer ver, mas dessa vez com um olhar diferenciado sobre ele.
    bjin

    http://monevenzel.blogspot.com.br/

  2. Rangel permalink
    outubro 14, 2016 11:25 am

    Filme belo, intenso…

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