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Observe Mike Ness se transformando em um clássico

novembro 10, 2020

Há muitos que aprendem a se “vestir” com o tempo ou às vezes a própria autocrítica destrói tudo. Você sabe, a sociedade tenta nos encaixar em um padrão comportamental e de estilo o tempo todo. Mas esquecem que cada um é único, nós somos humanos inevitavelmente vamos frustrar você em algum momento (citando o excelente Anthony Hopkins interpretando o personagem Robert Ford). Robert Ford sendo niilista, infinitamente existencialista e pegando emprestado o conceito de Julian Jaynes sobre sermos controversos, o conceito bicameral de mente e falando sobre autoconsciência (eu prometo escrever um post tão lindo quanto minhas reações internas ao assistir a série de Jonathan Nolan e Lisa Joy, Westworld).

Robert Ford nos dando um banho de filosofia existencialista. Emil Cioran vai perder essa.

Eu poderia citar várias pessoas que envelheceram, amadureceram ou como eu prefiro dizer, se tornaram um clássico. Pois não é? Existem os carros “velhos” e existem os “clássicos” e um “clássico” sempre será um “clássico” não importa o estado de conservação que esteja. Não estou transformando o ser humano em um objeto ou contemplando de um ponto de vista superficial. Isso não depende da beleza, visto que beleza sem conteúdo é um fardo e não uma contemplação. Não existe nada mais charmoso que envelhecer sem medos, seja da morte, da crítica externa ou da “perda da beleza”. No final o que é bom costuma ficar bem melhor com o tempo. Ontem vi o Ronnie Von na Globo News comentando sobre a morte de Vanusa (que foi uma perda enorme) e pensei: Tantos anos e o homem permanece lindo. Lindo e inteligente! Disse que Vanusa apresentou muitas inquietações feministas e femininas, também o cantor Belchior.

Social Distortion e Mike Ness (no centro da foto)

Mike Ness é um desses tipos Ronnie Von. Ele é bem mais novo (58 anos), mas seguirá o caminho. Primeiro pela conduta…em toda carreira punk, Mike foi ele mesmo: calado, tímido, “galã”, mas também marginalizado (não importa os rótulos) pelas tattoos (situação narrada por Rocky Rakovic na revista Inked), casado com Christine Marie desde 1990 quando a tendência, também entre os astros alternativos é estar sempre acompanhado, de preferência com uma mulher muito mais nova… Ness fez o improvável: foi de um estilo estereotipadamente (dentro dos padrões Vivienne Westwood do Sex Pistols, que gosto muito mas não é o único estilo punk) punk até o rockabilly. E quando as críticas não paravam de brotar ele ousou mais fazendo um som que beirava o country e também investindo nesse look. Hoje em dia ele parece um gangster saído da série “Boardwalk Empire”(tome isso como um elevado elogio), se encheu de tattoos old schoool e nunca esteve mais elegante. Ele virou um clássico. É aí que a personalidade causa uma reação muito maior que a beleza, existe algo mais punk do que a conduta de Mike Ness? Bom, alguns desmotivadores falarão da acusação de que ele agrediu um fã por mostrar o dedo do meio no show. A circunstância: Ness havia acabado de discursar contra Trump no show em 2018. Eu me pergunto, que diabos faz um fã de Trump no show do Social Distortion? E o que esse cara fez para que Ness, normalmente calmo e assertivo, teoricamente tenha partido para cima dele.

Eu poderia falar muito mais sobre esse homem aqui, mas devo deixar claro que Social Distortion é a melhor banda punk que já ouvi. As letras são lindas, as músicas são inspiradoras e a ousadia em mudar, quando os fãs esperam exatamente a mesma coisa, ainda obtendo reconhecimento por isso é algo para se admirar.

Mike Ness explicando seu “sympathetic look” em 1982, influência que seria bem nítida no Greeen Day nos anos 90 e 2000. Não somente neles, mas em todos os emos dos anos 2000…não digo que não tenha influência gótica, mas isso é ser visionário. Ele usava alfinetes na orelha, como os primeiros punks, arrepiava seus cabelos em um moicano que seria conhecido como faux hawk, popularizado por Sid Vicious, Billy Idol e Supla.

Capriche ao borrar o olho de preto

Esse é Mike Ness em 1981. Você pode imaginar isso em uma plateia com punks rispidamente estereotipados? Eu não sei vocês, mas minha experiência com punks na vida real não são tão idealizadas como no som. É algo do tipo: “Você usa uma faixa japonesa hachimaki, você não é suficientemente punk”. Como se não bastasse a sociedade que nem sabe como é o estilo… A faixa é um ícone cultural, impedia que o suor caísse nos olhos, garantia o capacete no lugar e significa até hoje, coragem e esforço. É bem conhecido na comunidade japonesa, o seu uso em datas festivas.

A combinação inusitada de um “sympathetic look” e o hachimaki, aguardando o rockabilly Mike Ness aflorar nos anos 1990.

Mas nem sempre foi assim…nos anos 80, quando era possível avistar todo colorido new wave afetar também o punk, Mike Ness permaneceu com a influência anarcopunk, nas boinas e acessórios.

O cabelo sempre foi algo importante para Ness. Enquanto o grunge pregava a simplicidade nos anos 90, tudo isso com muito cabelo comprido e mais natural possível, Mike Ness não ligou. Simplesmente estabeleceu seu estilo rockabilly com o cabelo curto e muito arrumado em um topete, quando todo mundo esperava muita sujeira e agressividade visual (no caso dos punks) ou o contraponto clean e urbano (grunge), porém simples. Também tinha espaço para o hardcore, também simples, porém esportivo e guardando muita agressividade (mais em relação à personalidade e muito menos focado nas roupas).

Vai pomada aí?

O cabelo sempre foi uma preocupação para Ness, que já investiu nos topetes rockabilly e até em muitos movimentos consagrados no estilo musical, como essa pose com a guitarra.

Mike Ness não incorporou apenas o rockabilly no visual, mas o country que faz parte da essência desse estilo. Veja Mike Ness também nos anos 90, com jaqueta de couro e chapéu de cowboy:

Se você é rockabilly e não tem uma camisa nesse estilo, você não entendeu o conceito. Ness e uma de suas paixões, carros antigos.

Mike Ness e seus inseparáveis óculos escuros.

O interesse pelo estilo old school não está somente no visual de Mike Ness, ele gosta de visitar os atiquários dos lugares em que faz show com o Social Distortion. Suas relíquias já são tantas que incomodam a esposa, porém ele diz que está providenciando outro lugar para guardar os achados. Rocky Rakovic, que passeou pelos antiquários com o Social Distortion em Nova Jersey para entrevista da revista Inked , perguntou para Mike Ness o que o atrai nas antiguidades e ele respondeu: “(…) Gosto de me cercar dessas coisas porque elas me inspiram. É uma outra forma de me expressar”.

Alguns de seus bonecos de ventríloquia. Gostou ou acha assustador?
A influência da coleção de antiguidades de Mike Ness: boneco na capa do ábum do Social Distortion “White light, white heat, white trash” do ano de 1996

Certamente o interesse por antiguidades ecoa no seu visual, com tattoos old school de temas clássicos como pin-ups, carros antigos, teia de aranha e muitas outras que se acumularam com o tempo. Também há a temática religiosa, que Jesus Cristo e a coroa de espinhos em seu peito.

Mike Ness aprecia a iconografia religiosa e também placas de carro da Gasoline Alley. Ness precedeu e muito a moda atual de tattoos no rosto, com sua âncora embaixo do olho esquerdo, que faz com que possamos observar também uma influência cholo, que parece ficar evidente conforme o tempo passa para Ness. Seus óculos escuros também são importantes, há muito tempo são também sua marca de estilo pessoal.

Essa pin-up é a tattoo mais fofa do Mike Ness.

Atualmente Mike Ness está mais elegante e clássico que nunca, pois incorporou definitivamente o estilo vintage/retrô ao seu visual provando que seu avô sempre teve razão: Na época dele, as pessoas sabiam se vestir. Um penteado no cabelo, uma boina, suspensórios, colete e gravata sempre serão muito elegantes:

Mike Ness e Social Distortion no FivePoint Amphitheater iem Irvine, 26 de outubro de 2019. (Photo by Drew A. Kelley, Contributing Photographer)
Social Distortion – Winners and Losers

Fonte bibliográfica: Procure a Inked número 5, de abril de 2011 com capa da Mel Lisboa para saber mais sobre Mike Ness.

One Comment leave one →
  1. Gui Purcote permalink
    fevereiro 7, 2023 5:10 pm

    Artigo excelente! Sou fanzaço do Mike Ness

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